Mauro Cid bate continência e Bolsonaro se tranca no banheiro antes de depoimentos sobre golpe

Mauro Cid bate continência e Bolsonaro se tranca no banheiro antes de depoimentos sobre golpe

Sessões no STF começam com Mauro Cid detalhando plano golpista; Bolsonaro deve depor nos próximos dias

A chegada dos principais réus da trama golpista ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira, 9, foi marcada por cenas que evidenciam as tensões e os simbolismos entre os ex-integrantes do governo Bolsonaro. Enquanto o tenente-coronel Mauro Cid bateu continência ao ex-presidente Jair Bolsonaro no momento em que o viu, o capitão reformado se esquivou do encontro, trancando-se no banheiro da Corte por alguns minutos.

O gesto de Cid, delator e colaborador da Justiça, foi interpretado como ceno à autoridade militar e, ao mesmo tempo, tentativa de reafirmar laços com seu antigo chefe. A continência, feita na antessala onde os réus aguardavam, foi espontânea — não houve resposta de Bolsonaro, que, segundo fontes presentes, demonstrou incômodo com a presença de seu ex-ajudante de ordens.

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Na sequência, ao perceber a aproximação de Cid, Bolsonaro dirigiu-se rapidamente ao banheiro do STF e se trancou em uma das cabines. Servidores e advogados presentes no local comentaram nos corredores o mal-estar visível entre os envolvidos. Bolsonaro permaneceu cerca de cinco minutos recluso, e só retornou à antessala quando Cid já havia sido conduzido à sala de depoimentos. Lá, antes de a sessão ter início, Bolsonaro e Cid se cumprimentaram.

A movimentação nos bastidores reforça o clima de tensão que marca o início dos interrogatórios no STF. Os depoimentos estão sendo colhidos pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal que investiga uma tentativa de golpe de Estado para reverter o resultado das eleições de 2022.

Mauro Cid foi o primeiro a ser ouvido. Durante horas, respondeu a perguntas da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do ministro Moraes. Confirmou o recebimento, via WhatsApp, de uma minuta do golpe, enviada por Bolsonaro. Segundo ele, o ex-presidente editou o texto original, retirando prisões de diversas autoridades, mas mantendo a detenção do próprio Moraes.

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O delator também revelou detalhes de uma reunião com o general Braga Netto e outros oficiais em que se discutiram estratégias para gerar instabilidade institucional. Cid alegou que, mesmo em tom de bravata, a reunião demonstrava intenção clara de ruptura democrática. Uma das propostas era a decretação de estado de sítio e a criação de uma nova comissão eleitoral para reverter os resultados das urnas.

Houve ainda, segundo Cid, um suposto plano para financiar ações extremas — incluindo sequestros e até assassinatos — com dinheiro em espécie entregue dentro de uma caixa de vinho. O dinheiro, diz ele, seria oriundo de empresários aliados do governo e destinado à execução de medidas radicais para impedir a posse de Lula.

Depois de Cid, depõe Alexandre Ramagem. Devem ser ouvidos nos próximos dias os ex-ministros Anderson Torres, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, além de Almir Garnier e Braga Netto. O ex-presidente Bolsonaro será ouvido no dia 10 ou 11. Braga Netto, por questões de saúde, falará por videoconferência.

A defesa de Bolsonaro tenta descredibilizar Cid, afirmando que ele mudou várias vezes sua versão dos fatos. No entanto, investigadores veem no ex-ajudante de ordens uma peça central por seu o ir ao presidente e à cúpula militar do Planalto.

A engrenagem do golpe

Os investigadores identificaram uma articulação de militares e civis ligados ao então presidente Jair Bolsonaro para impedir a transição democrática após sua derrota nas eleições de 2022.

A estratégia envolvia a declaração de estado de sítio, a prisão de ministros do STF — com foco especial em Alexandre de Moraes —, a anulação do resultado eleitoral e a formação de uma nova comissão que controlaria a organização de outro pleito. A minuta do decreto golpista, segundo Cid, circulou entre assessores próximos de Bolsonaro.

Além do discurso público de desconfiança nas urnas eletrônicas, havia planos concretos para gerar o que chamavam de “caos institucional”. Manifestos de caminhoneiros, protestos em quartéis e ações de desinformação faziam parte do roteiro para justificar a intervenção militar.

A Polícia Federal já indiciou 40 pessoas no inquérito que investiga a tentativa de golpe. O STF agora entra na fase decisiva, em que confronta os acusados com provas e delações. Os próximos dias devem esclarecer se Bolsonaro e sua cúpula compactuaram, executaram ou apenas assistiram à tentativa de ruptura da ordem democrática.

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